domingo, 30 de dezembro de 2007

Esquina Vestibular


Bairro da Liberdade, São Paulo - SP.

Uma semana. =)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Dentre outros 31.341 candidatos...


Montagenzinha simples que fiz hoje a partir de uma das primeiras edições de Love Hina - único mangá que me prezei a colecionar (embora mais três séries estejam na mira).

Bem, pouparei mais explicações... hehe.

Abraços e agradecimentos pela força, qualquer que seja ela.
Tenham bons sonhos.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Ghosts

If we give up before we ever fought
If we only do what we are told
And think we know it all, but never really learnt
If we turn the page before the page has turned

If we close doors we never opened up
If we don't really start a thing before we stop
And never speak the truth although we do not lie
If we're full of plans but never dare to try...

Ghosts we are, made of flesh and bone
With empty minds and hearts of stone
The seed that was not meant to thrive
Existing, but not really alive

Ghosts we are, though there's blood in our veins
Born free we chose to live in chains
Thought we were on our way, but in fact we weren't
So we burned out, before we ever burned...

If we take no risk, afraid that we might loose
And never make a choice, but let the others choose
If we don't love, afraid we won't be loved
If we long for touch but keep our fingers gloved

If we've got it good but even though feel bad
And should be happy but always feel sad
If we crash down before we tried to fly
Then we are dead so long before we die.

Ghosts we are, made of flesh and bone
With empty minds and hearts of stone
The seed that was not meant to thrive
Existing but not really alive

Ghosts we are, though there' blood in our veins
Born free we chose to live in chains
Thought we were on our way, but in fact we weren't
So we burned out before we ever burned...




~ ~ ~




Eis uma daquelas músicas que batem fundo.

Apesar da letra fazer muito sentido, fica incompleta sem o resto da melodia; então, aos interessados, o download da faixa pode ser realizado aqui ou, para os sortudos, aqui. Sortudos porque os downloads do grammy.ru sequer começam - no meu PC - mas vale a pena tentar.
Essa foi uma recomendação. Façam dela o que bem entenderem.

Já que é de Everon que se fez o post, agradecimentos e desculpas (como sempre) à fada de botas, quase uma lenda aqui :D
Ela que me fez o favor de apresentar a banda.


Jardins floridos a quem não tem sonhado; bons sonhos aos demais.
Até.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Tempestade, Pneumonia

Tempestades em sonhos nublados
Destemido
sob a queda dos céus eu corria
sob o peso de uma ventania
na esperança, asfalto de vidro.
Era um pesadelo dourado
Tempestade: Pneumonia.

Zé Eduardo Martin Roquetti



~ ~ ~



Toda a crueldade do efêmero, implodindo um só corpo.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Cavalo de Pedra, Cavaleiro de Ferro, Fantasia Impalada

Hoje, melhor dizer "agora", interrompi um sonho. Acabei de fazê-lo.
Dez voltas pelo quarto, imaginando - o típico início de um devaneio em plena luz da consciência. E o impedi de prosseguir. Parei. Pensei. Deitei-me e comecei a ler um livro. A leitura, no entanto, não me distraiu, pois não parei de pensar.
Que dera em mim para ter estancado um sonho como tal?
Medo? Medo. Medo, Precaução?
É. Eis que renego um aspecto infantil do Sonhar: a Fantasia Lúcida, dificilmente saudável. Temo pelo seu excesso. Temo pela sua simples (in)existência, pois ela implica, por si só, em um excesso concreto cometido, onde sonho, desejo e obsessão voltam a ser um só para atormentar o ser com esperanças inválidas e cansativas.
Abstraio. Sou cavalo de pedra, absorvendo o veneno, e dele criando um antídoto. Precavido, acalmo o corpo; ignoro as chances de sucesso para garantir as de sobrevivência, e, assim, volto a exigir do cansaço a extinta paciência.
E ela surge, como que invocada por um ritual. Agora cavaleiro de ferro, decido partir à luta. Confiante da batalha mas impedindo toda e qualquer célula do corpo de fantasiar a vitória.
Se esta - a vitória - for alcançada, na luta, na guerra, eu a conhecerei. E será apreciada, como virgem que deve ser, de verdade. Não será permitido que se sonhe com ela antes que ela chegue; jamais o Desejo me fará contente com os Sonhos que tenho, apenas.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Mazein?

Aos fatos... que fatos?

Nem sei. O povo caiu no sono.
Sobramos eu e a minha mente, para passar a noite. Tem um computador, mas não me diverte tanto. Nada tem me divertido. Uma coisa ou outra, ainda, por alguns minutos, horas, ou sei lá. Mas acaba, e esses finais sempre levam minha paciência com eles.
É assim que os dias acabam, acho. Quando não se tem mais paciência para aguentá-los.
O que coloca, é claro, todo ser pensante com o controle da situação.

Mas às vezes não enxergo como um homem incompleto, vestido de samba-canção e camiseta cinza manchada e furada, emprestadas, e pensamentos, imprestáveis, contém algum poder. E às vezes sobe-me à cabeça a certeza de que tudo está ali, para ser escrito.

O colchão sem lençol no chão, o edredon e o cobertor, antigos, e duas almofadas como travesseiros. Ali deita o homem incompleto. E em seu sono, o tempo passa, e jamais é o mesmo. Opiniões mudam, enquanto ele dorme; a carne amolece, enquanto ele dorme. O coração fala mais alto, enquanto ele dorme.

Lá vem o mundo, lá vai o mundo. E gira e gira e gira.
E o tempo passa, e jamais é o mesmo.
O mundo sob as cobertas, sob os cabelos, engole-se num infinito aconchegante de cores inexistentes, protegido do frio que bate lá fora.
Acaba-se o dia. E não sobra vontade ou paciência para dissertar sobre a falta de consideração que as pessoas têm ao começar o dia antes que outros se acabem.

Mas tudo bem - bola pra frente.
Corpo, carne osso e alma, pra baixo do cobertor.
E que o tempo passe.



~ ~ ~




Eis um texto que não é de hoje.
Mal lembrava dele - digitei com sono, fora de casa, e salvei no e-mail, lá pelo fim de Julho deste ano.
Sem lá muito o que postar, por agora. Li Laços de Família durante o feriado e desde então, quando sozinho, minha cabeça se enche de palavras ditando inúmeros contos sobre o Cotidiano. A ausência de papel e lápis nessas horas faz com que nenhum deles seja escrito - e a futilidade dos fatos que seriam retratados é também um determinante para que eu não cometa o crime de escrevê-los.

Assim, não tenho coisas minhas, novas, a postar.
Fiquem com um pouco do passado - afinal, não quero ser o único a me divertir tanto com ele...
Abraços.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Haikais

Haikai é a arte de dizer o máximo com o mínimo. Uma forma poética que, de tão simples, é bastante complexa.
Neste post coloco minhas tentativas de Haikai, em ordem de nascimento. O primeiro foi escrito em meados de Março, provavelmente dia 23, e o segundo deve ter vindo no mês seguinte. Os dois últimos são bem recentes; respectivamente, o primeiro veio no começo da semana e o segundo no dia 25. Os títulos costumam chegar bem depois. No caso dos primeiros, veio só mês passado. Os que vieram agora tiveram títulos quase imediatos.
Ei-los.



Mil Leões

Abram os portões:
Quando a flor beijar a face
virão os leões.



Kiai

Encara o tufão
que parte do punho forte
do corpo em Verão.



Gaiola de Melro

Voai, andorinha:
Pois não sois de minha espécie
tampouco sois minha.



Súplica

Esta minha tola
tentativa de explicar-te,
ó, Chuva, perdoa.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Devo agradecê-la?

Estou aqui.
E aqui é o fim de todas as coisas. Onde tudo termina e ganha um novo começo. Aqui deveria ser um penhasco, mas se parece mais com uma varanda; uma varanda de um prédio num bairro tranquilo, próximo ao mar. O aroma é nostálgico, o silêncio é a lei - quebrada apenas pela panela de pressão e pelos talheres dos vizinhos, que enchem o ar com cheiro de almoço. A tarde de Domingo inicia-se, as crianças brincam na praia, e o vento brinca pelas folhas das palmeiras e coqueiros da calçada. Um belo fim, ao som longínquo das gaivotas sobrevoando a costa; é um excelente e propício ambiente para um novo começo.
Tenho mais nada.
E estou vazio por querer, e querer apenas estar vazio. Deixei quem amo, quem me ama, para estar só, comigo, na esperança de que compreenderiam minha posição, abrindo os braços e secando as lágrimas quando eu voltasse. Enquanto me abraçassem com força, diriam-me ao pé do ouvido, felizes: "Que bom que você voltou!", e eu sorriria por dentro, retribuindo o abraço. Mas meus braços estão vazios, e às vezes desconsidero a compreensão alheia que reside na minha esperança. Meus braços estão vazios. Meus braços deveriam estar vazios, mas repentinamente está você no meio deles, e eu lhe abraço. Você olha na mesma direção que eu, neste momento, e eu lhe enlaço e lhe juro proteção. Você ri. E eu imagino seu sorriso. Imagino seu cheiro, que se confunde com a maresia agradável e com os avisos de que a comida está na mesa.
A comida está na mesa. Mas ali você não está. Pois repentinamente tudo se dissolve em uma curta viagem, como se as horas, dentro do carro que volta pelas Serras, pela chuva e pela neblina, reduzissem-se a segundos de segundos.
Eis que estou aqui. Sentado na cama, olhando o chão, tenho mais nada.
Convenço-me. A Realidade, inexistente a nós, vencera outra vez.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Felicidade

Quando enfim eu morrer e ouvir diretamente da boca de Deus (com aquele sorrisinho maroto, sempre) que eu realmente passei minha vida inteira sendo sacaneado por forças maiores, ficarei feliz, por ser talvez uma das únicas coisas da qual eu tivesse certeza, em vida.



~ ~ ~




Que fique esclarecido:
A vida é ótima, apesar das sacanagens. Mas nos momentos em que penso, indignado (e não mistificado), "... como pode, isso acontecer?", tudo parece uma bobagem desnecessariamente grande que não vale a pena desenvolver.


Já já saio do meu hiato criativo.
Abraços.
"Keep walking".

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Lepidoptera

Abre majestosa tuas asas de veludo
De papel camurça preto;
e deixa a noite cair.

Despeja teu pó sobre este mundo
E cega o que há de perfeito;
coloca-nos para dormir.

E dita teu feitiço mudo
co'as antenas, um encantamento
que nós não podemos ouvir.

Co'as runas do corpo felpudo
Confunde o que deve ser feito;
distorce o nosso sentir.

Teus olhos, inúteis, vão fundo
no sexo, no ninho ou no leito;
que nunca chegou a existir.

Termina, em teu vôo, com tudo:
Flutuas no ar em Sonetos
Místicos zigue-zagues e curvas sinuosas
És bruxa negra, sombria mariposa,
és ilusória, desde o nascimento.

Zé Eduardo Martin Roquetti

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Letargia

Sentado só no quarto escuro, às vésperas de qualquer coisa que se dará no dia seguinte. Ele não sabe o que escreve.
Já apagou algumas vezes o que foi escrito; na verdade, apagou uma vez só, mas isso não vem ao caso.
O sono o enebria, o cansaço o tira do sério. A contra-vontade, opositora. A inesperada, surpreendente e repentina vontade de ser um super-herói.
A dolorosa prece que se estrutura sozinha; que toma forma sem que ele queira, e que se ora por dentro, sem o conhecimento de mais ninguém - é, pois, agora revelada, como o ínfimo desejo de que as coisas voltassem a fazer sentido.
A perspectiva de antes inexiste agora.
A determinação torna-se questionável.
O tempo passado torna-se inútil, desprezível, indigno de credibilidade.
Ele bebe mais um gole de água - desejava algumas vezes que a garrafa anormalmente grande estivesse cheia de álcool, para, quem sabe, conhecer o novo.
Mas não é corajoso ou audacioso para concluir tanto; muito menos burro.
Assim, digita sob o efeito de água pura [...] e tem breves cochilos em frente à tela luminosa.
Muda de assunto. Jamais finaliza aquilo que começa, mesmo que com intenção de terminar. Jamais mantém. Jamais entrega-se a padrões, nem mesmo os supostamente benéficos.
É viciado em ninguém. Ser ninguém. De ninguém. Com ninguém.
É o nada ambulante, que se senta sonolento e escreve quando não deseja. Que desdenha da própria situação sem sequer tentar mudá-la.
Ele quem se mata diariamente. Quem morre sozinho, diariamente.
Espetado pela distância, crucificado por saudades daquilo que jamais o conteve.
Cansa-se da reflexão.
É cheio de idéias, que brotam sozinhas, mas falta-lhe paciência para ajudá-las a sair.
Elas ficam. E tudo que foi escrito também fica.
Expulsou as palavras, e definiu todo e qualquer espaço em que elas se alojaram - aqui - como o olho da rua.
A sarjeta.
Onde, em breve, ele há de se deitar...

domingo, 16 de setembro de 2007

Conto Mal-Feito da Vida Mal-Gasta

Eram tantas notas que seus olhos brilharam e sua boca abriu-se com languidez; não por ganância ou por ter algum tipo de desejo perante ao dinheiro, mas sim pelo fato daquela reunião multicolorida ser uma tangível representação de sua força de vontade. Pelos últimos dois anos ele havia economizado um tanto a cada mês, pensando na chegada deste dia de hoje, quando seus desejos seriam realizados - finalmente. Todos aqueles programas sacrificados por serem monetariamente custosos, todos lançamentos que não comprara por serem caros demais e tudo, em geral, que deixara de fazer em função daquela economia - valeria a pena, muito em breve. "Tudo valeria", pensava, enquanto dobrava cuidadosamente o bolinho de dinheiro e colocava com o mesmo cuidado em um bolso da jeans.
Já vestido e preparado como deveria, saiu de casa, não sem antes encarar a própria imagem sorridente ao espelho. Sorriso esperançoso, ansioso, acompanhando os olhos arregalados e contentes dos mesmos sentimentos. Os passos apressados atravessariam sua casa e alcançariam a rua, para, de modo tímido e desajeitado, caminharem o homem pela calçada até seu destino. O caminho mostrava-se distorcido aos olhos alegres, que buscavam em cada canto alguém que pudesse presenciar seu feito, alguém que viesse parabenizá-lo por ter finalmente chegado ali, por estar prestes a conseguir o que queria. Mas ninguém veio. As pessoas iam e vinham, muito poucas ao fim da tarde, sem nem ao menos notar o afoito rapaz que buscava a todos com seus olhos. Mal sabiam eles, os outros - era isso que ele pensava; mal sabiam eles que era seu aniversário de dezoito anos, e que sua vida encontraria sentido muito em breve. Que dois anos de sacrifício resumir-se iam em breve, quando finalmente... quando finalmente... Bem, finalmente.
Ele mesmo não aguentava mais esses finalmentes. O coração pulava como nunca antes, de tão ansioso que estava, à medida que ia chegando ao seu destino. Vislumbrou a construção que tomava parte do quarteirão, cercada por muros altos e rosados, com pinturas chamativas à mostra. O portão era grande e alto, e já se fazia aberto àquela hora, encaminhando quem quisesse entrar por um corredor também alto que dobrava-se em um ângulo que não permitia que transeuntes vissem o que quer que houvesse dentro daquele lugar. Numa grande placa e bem iluminada com neons, ao topo de um mastro negro, lia-se "BOITE - NIGHT CLUB" e o nome em francês da tal empresa. Os olhos dele brilhavam mais que o neon.
Entrou a pé, mesmo, pelo corredor, passando por diversas mulheres (ou diversos projetos de) pseudo-vestidas, que o encaravam cheias de escárnio no olhar. Algumas puxavam seus cigarros, outras coçavam-se e boa parte delas comentava algo com a companheira puta mais próxima. O corredor dava diretamente a um pequeno estacionamento feito cabines para carros, e, desse espaço mais aberto, ia-se diretamente a um prédio bem pequeno, onde estavam os quartos e o balcão principal; e da entrada até então, a ansiedade o consumia por dentro.
Passado o último sacrifício, ele encarou a mulher atrás do balcão. Mulher já madura, que envelhecia lentamente; algumas rugas, junto do olhar muito experiente e sob um bom peso de maquiagem. Trocaram olhares, ele e aquela antiga prostituta. E foram olhares significativos. Ela ergueu uma sobrancelha, ele ergueu as duas, e do bolso, o montinho de dinheiro foi direto ao balcão. Os olhos dela desceram ao dinheiro, as mãos contaram-no, e, depois de checar a quantia, ela voltou a encará-lo com pouca credibilidade. Mas, com um olhar em resposta, ele consentiu, e ela demonstrou-se mais surpresa ainda, logo sumindo-se por trás de uma cortina além do balcão. Ele ficou esperando, o corpo ansioso. O tempo compensara, pois, salva de descrições quaisquer além da seguinte, surgia por detrás da cortina a puta mais bela da região, que contornara o balcão e tomara-o pelas mãos, guiando-o pelas escadas até o andar de cima, onde entrariam em um quarto e deitar-se-iam na cama.
- Oi... Olha, meu nome é... - ele sorria tanto, tão descordenadamente, que mal conseguia falar. Ela não respondia nada, e a face, embora bela, não expressava emoção nenhuma enquanto começava a fazer aquilo que tinha sido paga para fazer.
- ... q-q... q-qual é... ei... ai... qual o seu nome?! - tentou novamente o rapaz; seria sua última tentativa naquela noite, pois não ousaria interrompê-la naquilo que tão bem fazia.
É, o famosíssimo momento chegara. A tal da Hora H. Tudo pelo que ele esperava estava ali, a realizar-se naquele instante. E assim foi feito, até que de maneira diversificada e bastante rápida, mas como nunca antes ele havia feito. Pois bem, não fizera nada disso antes; não sentira nada disso antes, nenhuma das incríveis sensações que envolvem o ato o haviam marcado anteriormente, e talvez jamais marcassem-no novamente daquela forma. Foi incrível, sensacional, único. E, como tudo que é bom, acabou.
Ainda enquanto deitados, ele buscou a mão e o olhar dela. Ela esquivou-se, sentando e começando a se vestir. O rapaz, agora crente de ser homem de verdade, insistiu, ajoelhando-se sobre a cama, logo atrás da mulher, e tentou massageá-la com as mãos. Mas ela tornou a se desvencilhar, levantando, saindo do alcance dele.
- Ei, seria legal se... sei lá... a gente marcasse algo... não é?
A resposta veio num olhar, por cima do ombro, enquanto ela vestia as sandálias, e depois, quando ela bufava e negava com a cabeça, incrédula com o que ouvia. Apressou a arrumação, por isso, e logo apertaria os passos para sair daquele quarto e deixar ali o homem com quem acabara de fazer sexo - seu cliente por algumas horas.
- Ei... mas... mas... você já vai?! - era a vez dele de ficar incrédulo, e também de não receber resposta alguma, novamente - Foi... foi muito bom, viu!, obrigado! Até logo! - foi falando, enquanto ela deixava para trás um último olhar; cheio de desprezo - ... eu te ligo...!
Ainda sobre a cama, as únicas e últimas palavras foram dele mesmo, cheias de uma esperança que acabara de morrer. Encarou a porta por onde a mulher acabara de sair. Os lençóis, o próprio corpo.
Caiu deitado na cama. As mãos cobriram os olhos para amparar o choro.



~ ~ ~



É o seguinte: qualquer semelhança com qualquer realidade não passa de mera semelhança.
Ponto.

Abraços.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

O Acorde da Ferramenta Cansada

Hoje acordo sem força no braço
direito.
E fraco assim mal seguro
E fraco assim mal defendo
aquilo que devo manter.
Mas ainda assim eu me gabo
e ainda assim minto ao mundo
e ao mundo insinuo poder.

Amanheço também com o dom
da verdade
Que guardo na ponta da língua
Que guardo na ponta da espada
- verdades que querem sair.
Tão cheias de necessidades
as guardo pois são derrotadas
por quem não as sabe ouvir.

E acordo com o corpo doído,
doente.
Voz muda, garganta ardida
Voz muda, orgulho ferido
e o choro cobrindo a visão.
Pois hei de erguer todo dia
a voz rouca, o braço moído
e o corpo, que Deus tem por mão.

Zé Eduardo Martin Roquetti


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sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Tempestade em Copo d'Água

Um Com o Mundo (finalizado)
Parte 1 - Um Com o Mundo, Ar da Vida
Parte 2 - Um Com o Mundo, O que Lava a Alma
Parte 3 - Um Com o Mundo, O que Unge e Unifica


Eis o fim do Conto.
E já agora o vejo suscetível a uma edição... Mas só a farei quando tiver mais tempo.

No mais, o dia está nublado. As pessoas confundem intenções, e aí não dá nada certo. E aí o EGO fala mais alto; e quando isso acontece, esqueça qualquer tipo de justiça e direitos. Você não tem direitos perante um poder egoísta maior que você; você não tem direitos perante uma mente antiga, antiquada e antagônica; egoísta, egocêntrica, egocrática.
Se eu erro (irresponsavelmente, eu sei) por não perceber as consequências antes de agir, alego que erram contra mim ao não compreender meu erro e ao abusar da severidade.
Alego também que os erros são os mesmos. Iguais. Idênticos. Mas a Sabedoria para evitá-los está longe de se equiparar; e o que aconteceu hoje faz com que eu questione qual o lado que a tem menos.

Eu luto. Juro que dou o meu melhor pra não ser hipócrita.
E a luta toma o aspecto do Mistério, e também do Conhecimento: quanto mais você descobre, mais tem a descobrir. Quanto mais você avança, melhor percebe o quão longo é o caminho, que aumenta proporcionalmente ao curso percorrido.
E quanto mais você luta, maior é a hipocrisia. E como na busca pelos Mistérios; e como na busca por Conhecimento - receio que não haja um fim para essa luta.

E jamais antes um verso, que eu mesmo escrevi em um Soneto, fez tanto sentido para mim:
"Branco Sagrado é a hipocrisia".
Jamais.

Atenho-me a essas curtas e subjetivas explicações.
Desculpem pela falta de detalhes.
Eu aprendi hoje que, tal qual objetiva o começo do conto Um Com o Mundo, as pessoas realmente complicam as coisas.

E isso hoje me encheu de asco.
E isso hoje me encheu o saco.

E depois de brincar com anagramas, vou brincar de ser adulto e levar uma conversa séria com quem deveria entender das coisas. E não, não estou falando de Deus.

Grandes abraços, e até quando for possível.

Um Com o Mundo, O que Unge e Unifica

Mas ao que se passou o tempo, a chuva tornou-se um incômodo. Não havia nada mais a ser purificado, mas a água insistia em retirar-lhe mais um pouco de alma. Insistia com cada vez mais fúria e mais violência, até que o homem no topo do mundo fechou os olhos e abraçou seu próprio corpo, buscando proteção maior.
Não parecia temer seu suposto destino, no entanto. Desejava apenas que a dor a lhe acometer fosse mais suave, mas isso não era possível. As gotas em formato de agulha faziam-lhe feridas profundas no que ele conhecia por sua Alma, e ali se alojavam, fazendo com que cada movimento fosse mais um motivo para a agonia vir à tona. Já outras gotas, demonstrando piedade, tocavam-lhe suavemente a face e imitavam lágrimas. Sabiam que o homem que sofria com a tempestade não iria chorar, e fizeram-se, em existência efêmera, parte do homem, servindo-lhe como a emoção que tardava a sair.
Aquilo o acalmou, como lágrimas têm a capacidade de acalmar a quem chora. Soltou-se do próprio corpo. Abriu mais uma vez os olhos e encarou a tempestade sobre sua cabeça, e por um momento sentiu-se maior que ela; mais forte que ela. Mais capaz que ela. As vinhas deram-lhe a força que ele precisava, e os vaga-lumes lhe conseguiram tempo, sabe-se lá como. E ele reuniu o pouco ar seco que havia à sua volta, para encher os pulmões de revolta, até que o próprio corpo se tornasse combativo e quisesse devolver ao mundo aquele ar irado. E quando devolveu, foi em forma de grito, em volume tão alto quanto aquele pico havia de ser. Deu-se o grito, e de imediato, tudo brilhou - uma seta branco-azulado cortou os céus exatamente por sobre o pico, em um zigue-zague de perfeição e incontestável e velocidade assombrosa, cruzando o caminho da nuvem ao homem sem impedimento algum, até atingi-lo.
Aquele choque de forças dantescas foi suficiente para que o mundo inteiro soubesse o que acontecia. A Terra tremera a ponto de surgirem fendas, inúmeras, para engolir florestas e cortar cadeias montanhosas ao meio. O grito de revolta fez-se ouvir por todo universo. Mas o trovão precedeu o raio, e o raio silenciou a voz do homem que era um com a Natureza - como haveria de ser.
Enquanto as vinhas, ainda envolvendo o corpo, carregavam-no com calma para baixo, os vaga-lumes seguiam, em cortejo, ao que o pico se desfazia em pó à medida que a chuva parava de açoiteá-lo.
O corpo inerte repousou sobre a ruína que um dia fora o maior pico de todos - agora reduzida ao pó.
As vinhas tornaram-se a pureza do homem, e cobriram-no por completo - ali cresceriam, e brotariam flores e árvores.
A chuva agora afinava-se e gradativamente tornava-se brisa - molhava o corpo como se o beijasse.
A tempestade, a maior e mais terrível de todas, durara uma noite - e agora dava lugar ao alvorecer, que continha o coração do ser que sucumbira com a bênção do Sol.
Silenciou-se tudo. A Terra respirou, e todas as brisas moveram-se para dentro dela. E ao soltar o ar, o mundo recebeu calmaria e violência, ventinhos e furacões. O Sol encarou o planeta nos olhos. As estrelas piscaram, mais uma vez. A vida cresceu.
E o Campeão do Universo - aquele Um Com o Mundo - voltou ao pó de onde viera.



segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Incompleto

E Eu não consigo alcançar
não posso ver
ou conhecer
e nem tocar

Não enxergo
não entendo
mas adoro
mas eu amo

Se me engano
Se me encanto
Se só penso

Em quem devia estar no fim de cada verso.
De cada frase.
cada fato ou sentimento.

Mas não está.
Pois está longe.
E é Você.

Zé Eduardo Martin Roquetti

~ ~ ~



Poesia escrita hoje, durante a aula. Gostei dela.
Sem mais comentários.

E estou em época de provas. Em breve terminarei o Um Com o Mundo. =)
Abraço a todos.

domingo, 12 de agosto de 2007

Um Com o Mundo, O que Lava a Alma

Eis que o Sol se pôs.
E a noite tomou o espaço do céu e da terra, e o lusco-fusco não fez objeção. Os vaga-lumes acenderam como haveria de ser, e todos que estavam presentes naquela região trataram de voar até o alto do pico, numerosos, desenhando círculos em volta do ser que respirara a brisa vespertina.
O tal não mais encarava o horizonte. Sua face erguida ao céu, os olhos vidrados nas estrelas, infinitas, dispostas no céu como um salpicado de prata, ouro, bronze, cobalto. Todas elas brilhavam de maneira única, como se dispusessem de uma complexa personalidade, como se cada piscada à Terra significasse algo maior que simples explosões e reações químicas. E ele sabia que significava muito mais que isso, e só por saber disso, já sabia mais do que qualquer cientista que imaginou ter compreendido as estrelas. As estrelas, então - todas juntas -, piscaram para ele, deixando o céu completamente escuro por um instante único. Os vaga-lumes brilharam como nunca, naquele momento onde eram as únicas luzes do mundo inteiro; como pequeninas estrelas esverdeadas, iluminaram o homem, o pico, e toda floresta em volta - e todos agradeceram em silêncio. O brilho esverdeado iluminou o sorriso sutil do homem que compreendia as estrelas, e então todo céu foi salpicado novamente com aquelas lamparinas maravilhosas. Mas o brilho repentino da volta das estrelas jamais ofuscara aquela luz que residia no olhar do homem, ou na traseira dos vaga-lumes. Então ele piscou para elas.
Provou da brisa noturna ao inflar e desinflar o peito novamente, e junto do ar, que de longe vinha agraciar o homem que conquistava os céus, vieram majestosas nuvens negras como jamais antes visto. Cavalgavam com honra e maestria pela penumbra do céu pontilhado, até cobrir completamente as estrelas dispostas no vácuo do vasto universo.
Não desviou o olhar do céu. Não ajeitou-se, não quis descer do pico para proteger-se da tempestade iminente, não temia raios ou ventanias. Os vaga-lumes mantiveram-se, os ramos e vinhas subiam cada vez mais, e agora enrolavam-se pelo corpo do homem que desafiava a tempestade, envolvendo pernas, tronco e ombros - suas pontas encaravam os céus, esperando o que vinha dali.
Encarou as nuvens colossais com serenidade. Ergueu os braços, oferecendo as mãos nuas aos céus - as nuvens rugiram, e toda Terra tremeu com isso. Mil leões de fumaça e energia vociferavam, das nuvens, para o homem, e ele não tremia. No momento em que abaixou as mãos, desenhando arcos com cada uma das duas, a chuva caiu. E atingiu o solo com velocidade, e banhou o picocom incontáveis gotículas de água pura. O homem que banhava-se na chuva abriu a boca, fechou os olhos - deixou-se sentir cada gota agulhar o corpo, até que não restasse corpo seco em existência. O vento passou a soprar com força, comandando a cortina de água para inundar o ar em todas as direções.
Era quase um tufão, que fazia com que torrentes de água girassem e atingissem o homem, mas ele jamais se movimentava, sobre aquele pico. Mantinha-se alto. Abraçado às vinhas, rodeado pelos vaga-lumes insistentes, ele jamais cairia. Seu mundo o banhava com o que havia de melhor; a mesma água que desmanchara a pedra e a transformara em areia, envolvia-o em ferozes gotículas. Purificavam-no.



~ ~ ~



Parte 1 - Um Com o Mundo, Ar da Vida

Goles de Inspiração:

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Um Com o Mundo, Ar da Vida

Não fora difícil chegar onde ele estava.
Os seres humanos comuns considerariam sua travessia lendária. Mitológica. Impossível. Desprovida de qualquer credibilidade. Mas ele não acreditava nisso - afinal, havia conseguido facilmente escalar aquele pico rochoso, alcançando o topo do Mundo. Não, não fora difícil. Fora tão simples quanto qualquer outra coisa que já fizera em toda sua vida, ainda que todas essas coisas fossem alvo da parca fé do Homem, por serem desafios consideráveis. Mas ele não achava nada difícil, não encontrava nada que lhe fosse complicado. As coisas davam certo, sempre deram e sempre seguiram o caminho que ele desejava para si; só se desvirtuava desta rotina quando o Homem implicava e criava complicações desnecessárias, e, em boa parte das vezes, inexistentes. Aí sim haviam problemas (por mais que de natureza e fins bastante contestáveis).
Inventam problemas. Para escalar o pico, definiram - por algum misterioso motivo - que seus membros eram insuficientes para concluir satisfatoriamente uma subida; assim, criaram ferramentas. Picaretas e pinos para ferir a pedra, cordas para enlaçar a montanha e enforcá-la quando houvesse alguma queda. Mas ele não precisara de nada disso. As mãos nuas alcançavam as saliências no pico, que, de alguma maneira, eram moldadas com perfeição para apoiar mãos e pés. Saliências confortáveis e entrâncias cujo espaço parecia perfeitamente desenhado para que coubessem seus pés, sem problemas. Até a gravidade parecia invertida erroneamente, como um mero engano; ao invés de trazê-lo para baixo, o atraía de maneira suave ao pico que escalava, e assim parecia que a própria montanha ajudava-o a dar as passadas em sua acidentada superfície vertical.
Dificuldade? Nenhuma. O sorriso, jamais desistente, embelezava o semblante e dava vida a qualquer dia frio. Assim ele atingiu o topo do pico, o topo do Mundo. Com os dentes ao mundo e com a vida correndo por cada simples célula de seu corpo.
Lá em cima manteve a postura. Não se cabia mais que meio homem em pé, na curta superfície que dava ao pico um ar de um palco num mastro, e não haveria equilíbrio se não houvesse fé no tal; mas lá estava ele, como se fosse o topo ele mesmo, completando o pico, em pé, sem oscilar. Os dois pés juntos e os braços pensos aos lados do corpo.
O pôr-do-Sol iluminava sua fronte com um alaranjado distinto. As nuvens coloriam-se em milhares de espectros, entre o laranja da réstia solar e um violeta anunciador da penumbra; e nesta divisão ele também se encontrava; assim como iluminavam-se os raríssimos e maravilhados galhos e raízes, que o acompanharam por toda escalada, o seguiram furtiva e calmamente, e agora terminavam a subida, por perto de seus pés, com as pontas voltadas ao homem em aparente observação.
Ali, então, ele aguardou um tempo, sem tirar os olhos do Sol ou sequer piscar, o que impressionaria muitos. A impressão, na verdade, era que o reflexo que o Sol fazia em seus olhos era diferente do que se enxergava como Sol-comum; seus olhos brilhavam com um brilho sem projeção, que se guardava de dentro, que se guardava de onde vinha.
Seus olhos fecharam-se à medida que os braços passaram a erguer-se, e o peito encheu durante este movimento sutil. Seu corpo estava respirando. Não, não como um qualquer pelas narinas; a brisa vespertina, desejosa para com as criaturas que viriam ao lusco-fusco, dirigia-se a ele para alimentar os pulmões de cada célula com seu ar agradável. De todas as direções, os ventos calmos se manifestaram - de todas as direções, todos os ventos atingiram-no como uma carícia. Por todos os lados ele respirava cada única brisa que lhe envolvia naquela espécie de travesseiro de ventos. E quando seu peito inflou até o máximo, e quando seus braços quase se esticavam à altura dos ombros, e quando sua face carecia de espaço para suportar tamanho sorriso, ele desinflou. Usou da mesma calma com a qual havia inspirado todo aquele ar, e soltou-o de volta, dispondo do mesmo carinho que os ventos lhe haviam feito. E cada brisa saiu por onde entrara, em rodopios graciosos e suaves, que balançavam desde a copa das florestas abaixo até as mínimias folhas, folículos e insetos, numa dança divertida e estonteante.



quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Sábados de Regência

Temo que dizer qualquer coisa sobre os Sábados de Regência seria injustiçá-los. Qualquer coisa dita é pouco, e corpo, e nem mesmo palavras, em forma de alma, podem fazer entender o momento com perfeição. Há pessoas envolvidas, aliás. Pessoas - ah, sim, pessoas - de valia. Toda possível e imaginável valia. E não ouso dizer mais.
Atenho-me a dizer pouco, então. A lembrar que termino o dia sozinho, com a impressão de que é mais tarde que a verdade nos relógios nos indica. Está escuro, e o trem parado; lá embaixo, à minha volta, as máquinas que dirigem máquinas, os prédios que não valem o esforço. O frio da realidade, que volta ao poder, aos poucos, contra os poucos compatriotas do Sonho debandados. A realidade. O mundo de pessoas indiferentes, incompreensíveis, incompreensivas.
Ergo o nosso cetro Real pela última vez ao dia, clamando por mais revoluções. Vejo fogos de artifício entre os prédios da cidade; sei, de alguma forma, que fui ouvido, mesmo sem ter brandido a voz gargântica. O violeta inesperado dos fogos é o que me confirma: haveremos de brandir a espada e o cetro mais uma (muitas) vezes - e clamar o trono Real e tomar posse. De voltar ao nosso lugar de origem e direito, como Reis da própria Realidade (que é o que somos).
Haveremos, pois, de voltar à regência.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Sobre a Volta ao Mundo dos Vivos

Tenho acordado sem vontade, embora eu tenha a vontade de acordar. Acordo sozinho; o próprio dia não nasce junto, na verdade - ou melhor, não acorda de verdade. Sempre é sombra, penumbra que é castigo para quem cedo madruga: uma sombra do dia anterior. Eis que sem vontade (mas desejoso), sem verdade (mas sincero, em si) e sem sombra de dúvida (mas carente de melhor comentário), os dias têm nascido e eu, nascido para eles, visando prosseguir com a volta ao mundo dos Vivos.
É árdua a tarefa.
Quando se acorda de madrugada, a vontade é gigante - mas o tempo é forte, e não deixa que você o segure. Quer-se escrever textos, quer-se escrever cartas. Quer-se ler artigos, quer-se saber de tudo. Mas jamais se pode tudo que quer (o tempo que o diga).
Quando se acorda de madrugada, as coisas ainda são de mentira; a casa vazia é um brinquedo solitário num parque de diversões vazio, o banheiro é uma casa de espelhos tenebrosa, onde a única imagem de substância é a sua própria, de cabelos de serpente e olhos vermelhos, pouquíssimo crédulos com a situação. Queriam eles crer que é tudo mentira.
Quando se acorda de madrugada, ainda se é um fantasma, uma sombra do dia anterior - e até que o dia tenha a boa vontade de acordar realmente, você ainda é morto. Vive sozinho: perambula pela casa arrastando suas correntes, conversando com seus fantasmas, sem tempo para concluir uma conversa ou um assunto sequer. Sem coragem para morrer de verdade, sem gente pra viver de novo.
Mas o sol raia, trazendo a pressa ao mundo e levando uma face de Desespero do mesmo. Você ganha vida com as exigências dramáticas e imortais feitas contra sua forma de usar o tempo; ganha vida com as buzinas lá fora, ganha vida com o silêncio em que o veículo é imerso, mesmo com tantos ditos de "bom dia" não-respondidos. Aquilo é vida.
Chega-se então àquele mundo dos Vivos. Com vivacidade para dar e vender, caminha-se pelo pátio até o local onde sua patota se reúne, já viva, aguardando avidamente por sua volta. Eles sorriem e riem, e a diversão existe - mas como tudo que é vivo por ali, morre depois de um tempo. A vida é tanta, que todos os dias são os mesmos. A mágica se mantém, tornando todos os dias uma cópia do primeiro, dez anos atrás. O ar é o mesmo, os caminhos são os mesmos, as pessoas são as mesmas. Os sorrisos, chacotas, cumprimentos, olhares, ironias, sentimentos, são os mesmos desde sempre, desde que a vida demarcou aquele lugar.
E, ah. A vida está em mim. Como é bom viver. Como é bom viver. Sou muito feliz com essa vida.
E tenho orgulho em ser morto.

*


Quando saio assim, para voltar ao mundo dos vivos depois, não venho de onde talvez pensem as pessoas de bem.
Corrijam-se: volto do mundo dos Sonhos.
E sobra-se muito de lá. No mundo dos Sonhos, a realidade estabelece um parlamento conosco, e assim a regência é nossa, por culpa talvez do povo. Mas, ainda assim, o trono não é de nosso direito.
Assim, é como no mundo dos vivos, mas diferente. Encontro quem quero, faço muito do que quero e penso nas coisas que gosto de pensar. Jamais esqueço-me da realidade, carente de combatentes, carente de adversários. Mas há prazer.
Assim como há pesadelos dos quais precisa-se acordar. E uma vez acordados, eis que volta o sonho - por mais que tanto não tenha acontecido comigo, ainda, espero que, como poeta morto, saiba usar a vida dos mundos verdadeiramente vivos, das árvores verdadeiramente verdes, dos momentos verdadeiramente gostosos; e assim, volte a sonhar como deveria.
As fadas que devem me odiar por isso, mas é necessário esperar.
Um sonho acabou. Um outro, mais forte, combativo e necessário, está prestes a começar.
E Sonhos não envelhecem.



~ ~ ~




Perdão pelas cartas ainda não escritas, pelos textos não escritos, pelos artigos não lidos e por tudo que não sei.

E um grande abraço a todos.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

O que não mata, engorda.

Tomava café-da-manhã como em outro dia qualquer. Seu desjejum baseava-se em um copo de leite puro e metade de uma broa de milho com manteiga. Vez ou outra, tomava junto do leite uma pílula de energético à base de Guaraná e Catuaba – apenas quando a noite não havia sido satisfatória ou suficiente para o descanso.
Eis que reparou que havia uma mosquinha, dessas “de banana”, flutuando e se debatendo à superfície branquela de seu leite. Não era o fim do mundo, mas sua mãe estava por perto, então decidiu que devia faze-la rir com a cena. Dramatizou:
- ... Ah nãããão, uma mosca no leite não...
Sorriu com certo desânimo. Ela não tinha culpa, a mosca. Retirou-a com facilidade, usando o fino cabo da faca de manteiga, sem corte – jogou-a sobre a toalha, dentre tantas migalhas.
Passou então a comer a broa, entre um gole ou outro do leite. Quando partiu para a segunda golada, parou – havia algo flutuando, novamente, à superfície lactosa. Desta vez era uma substância agregada, um pouco maior que a mosca; como uma minúscula rede de partículas negras, um pozinho que vulgarmente, na cabeça daquele matutino, era expelido por insetos. Não fazia idéia do que era:
- Ai, caramba... Quê é isso agora?
Repetiu o movimento com a faca cega, livrou-se daquela sustância estranha. Encaminhou o próximo gole, mas o movimento se estacionou tão logo veio-lhe um pouco de razão: “Hm, espera lá... E se esse treco for venenoso?”, pensou. Um pouco mais alto, em seguida, num ditado que precedeu um gole considerável do leite:
- Bah, deixa. O que não mata, engorda...
E matou.

~ ~ ~


Aaaah, que curioso!
Pensei em postar um texto recente, e fui checar a data em que eu havia escrito esse. E percebi que faz exatamente um mês que me veio toda a idéia e que, logo de manhãzinha, passei em palavras toda essa bobagem.

Querem novidades? Hm... Não, não irei fazer suas vontades; direi o que é fato consumado a todos. Quanta coisa mudou em um mês!
Já perdi minha postura perante essas mudanças. Perdi a paciência. Mas fazer o quê, né... Keep Changing. =)


Agora, dispeço-me, arriscando minha pele com insanidade, colocando palavras cujo significado eu desconheço completamente. Estas vêem da #9 Dream, do John Lennon; um cover dela acabou de tocar na rádio, e, por quê não?, as tais palavrinhas não pararam de bailar pelo meu cérebro. (E agora, Piano Bar do EngHaw, na rádio. Senhoras Rádios, favor parar de colocar músicas que fazem sentido. Às vezes enche.)
Vai, chega de embolação.
Que as palavras bailem, que venha a despedida.

Ah! b'wakawa poussé?, poussé? =)
Cya.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Emenda Constitucional Número Zé

Emenda Constitucional nº 54, de 26 de julho de 2007 - Direitos Sociais - Educação, Saúde, Trabalho, Moradia, Lazer, Segurança, Previdência Social, Proteção à Maternidade e à Infância e Assistência aos Desamparados.
Altera a redação do artigo 6º da Constituição Federal.
O Zé, nos termos de nenhum parágrafo da Constituição Federal, promulga a seguinte Emenda ao texto constitucional:

Art. 1º O artigo 6º da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, O TEMPO DE ÓCIO CRIATIVO, AS FÉRIAS PROLONGADAS a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição."

Art. 2º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua (re-)publicação.

São Paulo, 26 de julho de 2007. Mesa do PC:
Zé Eduardo.