domingo, 19 de outubro de 2008

5:15

É noite, e você passa suas noites sentada à borda da cama com o rosto entre as mãos e a esperança esvaindo pelo carpete, gotejando a partir dos fios multicoloridos de cabelo cuja última propriedade pensável é "natural" mas cujo cheiro demorou a deixar minhas mãos. Sozinha por escolha própria, tendo renunciado às minhas algumas tentativas, à minha incontestável dedicação, é possível que a única coisa que passe pela sua cabeça seja o mesmo filme dos últimos meses: sem mudanças no roteiro, sem protagonistas novos - só o mesmo final infeliz, os mesmos e esporádicos figurantes sem feições, cem feições, e trinta maneiras diferentes de chupar alguém.
Há neste ponto quem questione a veracidade dessas coisas. Sou eu, eu questiono. Quem é você, afinal? Você pode enxergar um retrato bem feito nas minhas linhas, mas tudo que eu vejo são as linhas que são; rascunhos que são, esboços mal-feitos num processo interrompido e cheio de defeitos, pouca-vontade e má fé. Neste ponto, reitero, pouco importa quem você é: sou pois quem largou o lápis e deixou que a ponta se quebrasse em trinta; se possível, quem jogou a prancheta contra a parede e morreu sentado, atônito e agraciado pelos olhos de ressaca preguiçosos de mirar qualquer outro lado.
Há verdade em nada, porque haveria? Não houve verdade em minhas intenções, os fatos foram imaginados e assim minha desistência pode ser julgada como um plano para algo que nunca existiu. Em síntese, desconsiderar a tentativa, esquecer os fatos, desaperceber a desistência.
Se por um momento o mundo era claro em suas infinitas rachaduras; se há uma dúzia de horas eram vocês os desajustados e carentes de socorro, onde quer que estivessem se destruindo; é notório em tempo presente que o rascunho da caricatura, o único quebrado, o único caído e único por convenção, seria eu.