quinta-feira, 16 de abril de 2009

O Trem

Que digo...?
Essa coisa toda de ser... essa coisa toda de ser poeta - melhor dizer logo -, tem altos preços.
E pagamos (vocês sabem) a duras penas, a longo prazo, em prestações de jamais-fim, com sangue, suor e lágrimas, como já foi dito antes por todo quem se atreveu a versar, rimar, dançar - com os próprios pés ou lá nos ombros dos gigantes.
É sina como toda longa dívida o é; basta descobrir qual dádiva ganhamos em troca de tamanha fúria destes flagelos que nos cobram.
Mas minto quando digo que não sei do talento que temos nós poetas. Mentimos as belezas a todos que queiram lê-las ou ouvi-las em voz alta, e mentimos de forma que sejamos agraciados e parabenizados em seguida. Nossos chicotes dificilmente partem das mãos dos outros: vêm de nós mesmos.
E o açoite vem sempre tal qual memória-falsa, tal qual intenção não-completa, tal qual futuro-ideal. Tal qual o imaginamos. Tal qual espera-eterna, tal qual uma estação de trem onde se senta no chão enquanto o trem não vem. Ele jamais chega. Apesar disso, sobe o aroma de combustível queimado, e no meio dele, os perfumes de outrem; antes exalados com tanta graça, agora menos que um veneno misturado a chamusque de óleo.
Passa-se mal com tal revertério - mas jamais passa a sensação de guarda, espera, longa espera. E o trem, que por si não passa nunca.

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