quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

pensamentos (nem tão) soltos

nenhum acorrentado é capaz de aceitar tranquilamente a liberdade do outro.
ninguém que vive numa gaiola é capaz de apreciar a liberdade do outro sem invejá-lo.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

desculpai-me

Desculpai-me mas vou continuar a falar de mim que sou meu desconhecido, e ao escrever me surpreendo um pouco pois descobri que tenho um destino. Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa?


de A Hora da Estrela
Clarice

domingo, 14 de novembro de 2010

despedida

seu cheiro no meu casaco,
seu telefone no meu bolso,
por que você não está neste elevador?

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

reflexo persistente de cabelo

Observou de coração apertado as mechas azuis da transeunte à frente se afastarem, deixando-o para trás. Ele se perdia nos próprios passos e passava a vagar, encarando as costas da estranha como fossem costas muito conhecidas, num movimento de abandono definitivamente familiar.

"Maldita moda. Maldita cor. Maldita tinta, maldita mania de pintar o cabelo", praguejou consigo e fantasiou ser o presidente daquele país, para que pudesse proibir, sob pena de morte aos dissidentes, que se tingissem os cabelos daquela maneira.

Daquele dia cresceu pouco e se tornou o mais jovem Presidente da República Federativa até então eleito. Rodeado de homens e mulheres de confiança, em seu primeiro dia como a pessoa mais importante daquele país fez com que fechassem o Senado e as Câmaras deliberativas para que então pudesse baixar o decreto que proibia, sob pena de morte, às mulheres de tingirem os cabelos com mechas azul-cobalto. Assinou o papel aliviado e botou o rosto entre as mãos, sem chorar, como quem dá fim a uma batalha há muito iniciada.
 
Foi acordado no dia seguinte pela multidão gritante que povoava a grande praça em frente ao palácio da República e que chegava na forma de um burburinho em seu quarto, no topo e no meio do prédio. Olhos arregalados e meio vazios, passos estalados até a janela, expressão afetada ao alcançar a sacada.

De seu balcão, o Presidente da República dobrava os olhos e perdia o fôlego observando os milhares de manifestantes praça abaixo, com seus cabelos de um dia pro outro longos, lisos, pretos e cheios de mechas azul-cobalto. Fraco e mole como se subnutrido pela própria vida, apreciou cada uma como fossem milhares de fotografias de alguém que ele não via há muito (pessoalmente).

Naquele dia - decidiu - cabeças haveriam de rolar.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

reflexo pálido de manhã

o sono curto por tantos anos
e hoje com isso de dormir
o tempo justo, a cada dia
...........- é inútil.

um caixote azedo que aperta a cabeça
um homem pesado que assume
um par de olhos vermelhos sobre castanho
...........- resultados inexplicáveis do descanso.

dorme tão bem, mas
onde conseguiu estas olheiras?
onde conseguiu este inchaço?
...........- tem chorado em sonhos por todas as noites.

sábado, 30 de outubro de 2010

hoje acabei com a garrafa de vermute que chegou em casa no dia em que te conheci. "te conheci", bem entre aspas - que falei contigo a primeira vez por tempo suficiente pra saber que você significaria algo.

é engraçado.
a garrafa acabou e isso significa absolutamente nada...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

hospice

Well no one's gonna fix it for us, no one can.
You say that, "No one's gonna listen, and no one understands"
So there's no open doors and there's no way to get through,
there's no other witnesses, just us two.



the Antlers.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

passarinho

Passarinho não canta,
passarinho não come,
passarinho não bebe.

Passarinho anda triste.

O que foi, passarinho?
Mudam as penas, tens febre?
Não te dou alface, alpiste,
água clara? O companheiro?...

Passarinho quieto, quieto,
nas próprias asas se esconde.

O companheiro levou-te
a voz, a garganta, o bico?

Enterraram-se com ele
no lodo negro as escalas
aéreas de trampolim,
as teclas, o arco, o violino,
e o piano de tua música?

Era dele que te vinha
a auréola, o entono, o donaire
com que a cabecinha erguias
a esfuziar azougue, prata
líquida, com volutas
e arrebescos de medalha?

Era dele que te vinha
o frêmito de ouro, o gozo
de jóia, pérola a pérola
no aveludado dos trinos?

O arrepio de carícia
longo, fino, contagioso
de lua, de cisnes, de água
descendo, em fio, a colina?

Era dele que te vinha
tudo isto, o sol, as estrelas,
o brilho do canto, as quentes
auroras na areia, ao vento,
as espigas ondulando,
musgos nascendo nas pedras,
campos abertos, batidos
de lavoura, nas soalheiras?

Era dele que te vinha
aquele vinho furtivo
na espessura da folhagem,
verde-jalde chuva, arco-íris
de paina tênue, delícia
de malvas brotando, sombra
de cílios no rosto, espera
do que vem trêmulo e próximo?...

Passarinho quieto, quieto.



A poesia é de Henriqueta Lisboa; a imagem é capa de um disco (ruinzinho) chamado Transatlanticism.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

20

 

 acho que me sinto mais duas de dez
do que uma de vinte.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O Navio de Espelhos


O navio de espelhos
não navega - cavalga.
Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível
Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos
Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele
Os armadores não amam
a sua rota clara
(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)
Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga
O seu porão traz nada
nada leva à partida
Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta
(E no mastro espelhado
uma espécie de porta)
Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto
A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto
Quando um se revolta
há dez mil insurrectos
(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)
E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo
Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)
do princípio do mundo
até ao fim do mundo.

~ ~ ~

Vídeo produzido por Francisco Ribeiro, Gabriel Gomes; música por Rodrigo Leão. Texto e narração por Mario Cesariny.
Indicação de uma certa Cláudia.
Fantástico.

admiral fell promisses

Come out from the burning fire, butterfly
Let me lock you in my room and keep you
For a while
Could you be the answer to my every prayer?
Could you be the one for who I care?

Come into my arms and let your worries die
Come out from the web of all your tangled lies
But be true to me and I’ll be true to you
Judge me not for what I’ve done but what I’ll do

A million nights have led
To this one that we are spending
And I know it’s better here
Than anywhere I’ve been going
With every morning grew
A void more wide and endless

Come out from the burning fire butterfly
Let me lock you in my room and keep you
For a while
You watch over me and I’ll watch over you
And if you go tomorrow choke me ‘till I’m blue

A thousand days have passed
In this house she and I were sharing
And I hate myself for it
But I have stopped caring
The Marilyn sky tonight
Is so black and blue and beautiful




Sun Kil Moon

~ ~ ~


Esqueci de dizer que esse é pro Bernardo, que me apresentou a banda e brincou de transcrever a letra dessa música comigo.
Ele faz aniversário hoje, aliás.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

rilke

O amor constitui uma oportunidade sublime para o indivíduo amadurecer, tornar-se algo, tornar-se um mundo, tornar-se um mundo para si mesmo por causa de uma outra pessoa; é uma grande exigência para o indivíduo, uma exigência irrestrita, algo que o destaca e o convoca para longe. Apenas neste sentido, como tarefa de trabalhar em si mesmos ("escutar e bater dia e noite"), as pessoas jovens deveriam fazer uso do amor que lhes é dado. A absorção e a entrega e todo tipo de comunhão não são para eles (que ainda precisam economizar e acumular por muito tempo); a comunhão é o passo final, talvez uma meta para a qual a vida humana quase não seja o bastante.
É aí que os jovens erram com frequência, gravemente: pelo fato de eles (faz parte de sua natureza não ter paciência alguma) se atirarem uns para os outros quando o amor vem, derramando-se da maneira como são, em todo seu desgoverno, na desordem, na confusão... Mas o que deve resultar disso? O que a vida deve fazer desse acúmulo de equívocos a que eles chamam de união e gostariam de chamar de sua felicidade?


das Cartas a um Jovem Poeta,
Rainer Maria Rilke


agradecendo ao Rilke pelas palavras
e à Aninha pela indicação.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

café

quando peguei Café no colo pela primeira vez.
tremia bastante, era uma filhota muito recentemente desmamada e saía de casa pela primeira vez. não soltava pêlos, não se mexia muito.
meu avô comentava sobre como as outras duas filhotas tinham cores mais claras: "esta é mate-com-leite, esta é café-com-leite. aquela ali", olhou pra fêmea no meu colo e concluiu "é só café".
olá, Café.
decerto você diria "Café é um nome bem picareta para um cachorro, Zé" e eu concordaria com você. "é", eu diria. "bem-vinda ao meu mundo, Café".
depois de inúmeras manhãs de domingo passeando nos parques e praças daqui, em menos de um ano estaria grande o suficiente para que eu te comprasse uma coleira mais confortável e toda noite que chegasse em casa, tarde da noite que fosse, te pegaria pra passear. os domingos se repetiriam nas áreas verdes: brincadeiras já memorizadas e minha voz familiar como a de um pai, não precisaria segurar sua coleira pra te fazer voltar pra perto; eu chamava e seu retorno era iminente e desembestado como a cadela boba e carinhosa que você se tornara com o passar dos anos.
e ao passar dos anos eu deixaria meu lar e você viria comigo, maiores as suas lágrimas em eu abandoná-la que as de minha irmã mais nova em perder a mascote da casa. um espaço maior e mais aberto, uma vizinhança nova, um cachorro igualmente bobo e vira-lata pra que você se enturmasse com os teus nas redondezas. a manutenção da rotina, os banhos sofridos de sábado e os passeios noturnos. seu brinquedo favorito, renovado uma ou duas vezes a cada mês por ser comestível e muito mais saudável que qualquer porcaria de plástico.
Café, você cresceu. se algum dia teve patinhas sujas eu logo percebia e te limpava, que as patas eram a parte caramelo do teu pelo quase preto e não era possível ignorá-las sujas; não raras as vezes que você as carimbava nas minhas roupas assim que eu chegava, e era meu dever relevar - quantas vezes não te dei abraços cheio de perfumes que não eram sequer parecidos com meus cheiros?
seu rabo longo e chicoteante, sempre abanando à menor vista do dono, sua orelha ligeiramente torta e rasgada por quando defendeu a casa d'um invasor qualquer (sobreviveu parcamente àquele dia, e foi o máximo que um cão faria por mim e quando choramos juntos aquela noite fui confidente e soube acreditar que era por mim que você o tinha feito).
não sei dizer, Café, como você ficou doente ainda anos depois e ainda depois de outras mudanças. chegaram os donos de sua mãe, nesse momento, e fiz em você uns últimos carinhos enquanto você lambia com calma os sonhos que me escorriam pelas mãos. olhei você nos olhos e você piscou de leve umas vezes. saudei-a em silêncio e me despedi não sei por quanto. "tchau, Café"; e entreguei teu corpo vivo, pesando poucos dias e uns sonhos de sobra, à mão de outro que te levou embora.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

todos fazemos.

e esta noite você está no meu chá.
eu, cansado pra tentar fazer algo bonito, novo ou poderoso.
eu, querendo desabafar porque seu cheiro sobe da xícara em formato de vapor.

achei que alguma mágica ia acontecer quando eu despejasse a água fervente no copo. no fundo do vidro, partes das suas folhas secas; a coloração variava mas todo resto seu era pálido e escondia um reflexo lilás muito distante, mas ainda presente. lilás em tons de lembrança, só, que tudo era mais ou menos cinza.
lembro do mate tostado. desce da chaleira o torrente fervido e as folhas marrons sobem, descem e submergem num pequeno pandemônio aquático sob meu controle; antes mesmo do copo encher e acabar a derrama, a água já está toda manchada e escura da erva mate.
não aconteceu com você.
queria vê-la tingindo a água quente de violeta, e um violeta que perdurasse até o último gole. não houve mágica e a água mal mudou de cor quando mergulhou seus restos cinzentos.

ao fim de cinco minutos de infusão estava lá um líquido ralo e numa cor talvez até mais clara que os chás de erva-doce. coado, transposto à xícara - seu cheiro impossível de negar.
diabos. o chá mais gostoso de todos, também o mais dolorido.

a mentira: o cheiro e gosto me lembram do que aconteceu.
a verdade: a verdade é que a menor menção já me remete ao que eu (não) fiz. o resto é tortura. o resto é masoquismo.

chega em casa o pacote manufaturado e vendido em atacado com suas flores secas e prontas para infusão - seu nome, "lavanda", impresso numa etiqueta; seu outro nome, "alfazema", gravado na memória e preso a associações diretas.
e você não chegou sequer a dar flores. enxergo você no pacote ainda assim - ali está um futuro seu que nunca vamos alcançar, as flores cinzas e secas e prontas para infusão, a promessa de um perfume, a imagem das manchas lilases sob a janela, sobre uma varanda. o cheiro e gosto que vêm depois me lembram sim da época em que você era verde (e não cinza) e passar a mão pelas suas folhas deixava meus dedos cheios de uma graça sem remédio, que não saía fácil.

a metáfora:

deus, permita que eu me perdoe por ter arruinado seus menores sonhos.
é uma súplica.
você queria ser verde e lilás, e eu lhe fiz cinza.
porque todos esquecem de regar as plantas e eu me comportei como um qualquer.

domingo, 29 de agosto de 2010

en gallop

And you laws of property
Oh, you free economy
And you unending afterthoughts;
You could've told me before

Never get so attached to a poem, you
Forget truth that lacks lyricism, and
Never draw so close to the heat, that
You will forget that you must eat, oh...



Joanna Newsom

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Poema

O grilo procura
no escuro
o mais puro diamante perdido.

O grilo
com suas frágeis britadeiras de vidro
perfura

as implacáveis solidões noturnas.

E se o que tanto buscas só existe
em tua límpida loucura

- que importa? -

isso
exatamente isso
é o teu diamante mais puro!



(M.Q.)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

o que é, o que é?

só cresce, como o escuro cresce num céu de tarde e engole o mundo todo dia, mas cresce infinitas vezes mais rápido que o anoitecer.
cresce como um monstro, abraça mais largo e assombra mais perto que o anoitecer.

e apenas cresce.
surge de dentro, acima da barriga, debaixo do peito.
faz mais nada além de existir.
é grande mas nunca ultrapassa sua pele.

sua existência perturba.
sua existência não se explica.
sua existência não se resolve.

espera-se que vá embora.
e só.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

o delírio

A moça morena agora mistura seus dedos com os seus cabelos úmidos, revolve- lhe as ideias com movimentos suaves. Ele pega-lhe no braço, desfia seus dedos por aqueles dedos finos. A palma é macia. Junto da unha um pouco áspero. Encosta a boca no seu dorso e vai passando-a por todos os caminhos, minuciosamente, os olhos muito abertos na escuridão. A mão procura fugir. Ele a retém. Ela fica. O pulso. Fino e tenro, faz tic-tic-tic. É uma pombinha que ele aprisionou. A pombinha está assustada e seu coração faz tic-tic-tic.
- Este é um momento? Pergunta em voz bem alta. Não, já não é mais. E este? Já agora também não. Só se tem o momento que vem. O presente já é passado. Estire os cadáveres dos momentos mortos em cima da cama. Cubra-os com um lençol alvo, ponha-os num caixão de menino. Eles morreram crianças ainda, sem pecado. Eu quero momentos adultos!... Moça, aproxime-se, eu quero lhe confiar um segredo: moça, que é que eu faço? Me ajude, que minha terra está murchando... Depois o que vai ser de minha luz?
O quarto está tão escuro. Onde a Virgem-Mãe que a tia meteu-lhe na mala, antes da partida? Onde está? Sente a princípio alguma coisa movendo-se junto dele. Então na sua boca enxuta dois lábios frescos pousam de leve, depois com mais firmeza. Agora seus olhos já não queimam. Agora suas têmporas deixam de latejar porque duas borboletas úmidas pairam sobre elas. Voam em seguida.
Ele se sente bem, com muito, muito sono...
- Moça...
Adormece.



de O Delírio (A Bela e a Fera, 1941)
Clarice

terça-feira, 20 de julho de 2010

nessun dorma

Il principe ignoto

Nessun dorma! Nessun dorma! Tu pure, o Principessa,
nella tua fredda stanza
guardi le stelle
che tremano d'amore e di speranza...
Ma il mio mistero è chiuso in me,
il nome mio nessun saprà!
No, no, sulla tua bocca lo dirò,
quando la luce splenderà!
Ed il mio bacio scioglierà il silenzio
che ti fa mia.


le stelle

Il nome suo nessun saprà...
E noi dovrem, ahimè, morir, morir!


Il principe ignoto

Dilegua, o notte! Tramontate, stelle!
Tramontate, stelle! All'alba vincerò!
Vincerò! Vincerò!





puccini,
calaf,


pavarotti.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

cadafalso

cada passo que dou hoje
caminhando para frente
não me levam para frente
mas pra longe.

cada passo é um estanque
não parece caminhada
mas degraus de uma escada
prum palanque.

cada passo soa falso;
num momento de inércia
o meu passo vira queda
- cadafalso.


metade de Junho, 2010
metade de Maio, 2010

sábado, 26 de junho de 2010

um canteiro só pra eles

a título de registro, hoje transplantei a lavanda para um vaso maior. vai ficar nos fundos da casa, agora. metade dela está seca, a outra metade meio torcida; tenho medo de que mesmo com tudo novo, ela não sobreviva.

por outro lado comecei dois novos canteiros.
hortelãs dividem espaço com calliopsis.

os amores-perfeitos ganharam uma nova chance e agora tem um canteiro só para eles.

~

sexta-feira, 18 de junho de 2010

vida morta, irmão de alma, coração-drummond

É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.

É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.

É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.



o enterrado vivo

domingo, 13 de junho de 2010

the flame

there is a fire looking for you, paper crane
......fly the faster
...........fly the farther
.................otherwise your dreams will fade.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

dos sonhos

levo-te, lavanda
vaso novo, terra nova
sombra da varanda.


fevereiro, 2010.


 konna yume wo mita...

sábado, 29 de maio de 2010

o pior.

e a internet ainda é o pior paradoxo de todos.















o pior.


tem essa forma de não-dormir. não durmo, e não durmo faz tanto tempo que até dói admitir.
parece que a única coisa que resta não é dormir, mas desistir dos dias.

dormir e desistir são coisas tão parecidas que quase ninguém percebe a diferença.

sábado, 15 de maio de 2010

cadafalso

cada passo que eu tenho dado

pensando em ir pra frente

não me levam para frente

mas pra longe.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

irmão de alma, coração-drummond

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.


[...]

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

vida seca.

iriam para diante, alcançariam uma terra desconhecida. [...] estava contente e acreditava nessa terra, porque não sabia como ela era nem onde era.


Graciliano Ramos, em Vidas Secas.

sábado, 8 de maio de 2010

só um ônibus. só.

Entre linhas.
Fim do Caderno.
Letra desequilibrada.
Espia-se por sobre o ombro.
De canto dos olhos.
Como eu também faria.
Não.
Não estou bêbado.
Minha letra não é feia.
Não estou triste.
Nem choro.
Só estou num ônibus.


Não preciso, aliás, estar bêbado para fazer o que for.
Faço sóbrio.
E só.

Destruir-se ébrio.
Com o álcool destruir-se, aliás.
Não - é tampouco necessário.
Dia vai, dia vem, e destruo-me sozinho nos decorreres.
Sóbrio.
Faço sóbrio também.
E só.

Talvez haja valor no fiasco afogado no copo.
Talvez não doa tanto.
Talvez não doa.


quando foi isso?
março de 2010, acho.

sábado, 24 de abril de 2010

grandessina

é ter vontade de chorar quando só é necessário dormir.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

escuro.

talvez não haja certo nem errado.
existe o escuro que precede a escolha
existe a escolha
e existe o escuro seguinte.