sábado, 23 de maio de 2009

aprendi com elas

Se a planta está fraca e caída porque falta água, uma chuva só a esmagaria contra a terra.



É só uma constatação.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Segismundo

Es verdad; pues reprimamos
esta fiera condición,
esta furia, esta ambición,
por si alguna vez soñamos;
y sí haremos, pues estamos
en mundo tan singular,
que el vivir sólo es soñar;
y la experiencia me enseña
que el hombre que vive, sueña
lo que es, hasta despertar.

Sueña el rey que es rey, y vive
con este engaño mandando,
disponiendo y gobernando;
y este aplauso, que recibe
prestado, en el viento escribe,
y en cenizas le convierte
la muerte, ¡desdicha fuerte!
¿Que hay quien intente reinar,
viendo que ha de despertar
en el sueño de la muerte?

Sueña el rico en su riqueza,
que más cuidados le ofrece;
sueña el pobre que padece
su miseria y su pobreza;
sueña el que a medrar empieza,
sueña el que afana y pretende,
sueña el que agravia y ofende,
y en el mundo, en conclusión,
todos sueñan lo que son,
aunque ninguno lo entiende.

Yo sueño que estoy aquí
destas prisiones cargado,
y soñé que en otro estado
más lisonjero me vi.
¿Qué es la vida? Un frenesí.
¿Qué es la vida? Una ilusión,
una sombra, una ficción,
y el mayor bien es pequeño:
que toda la vida es sueño,
y los sueños, sueños son.


Pedro Calderón de la Barca
em La Vida es Sueño, peça do teatro Espanhol

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Travesseiro de Outono

Meu mundo laranja, marrom, dourado. Minha grama fosca, opaca, minha brisa veraneia que ainda não se foi. Aquele frio matinal, aquele Sol todo amarelo-pastel que cavalga implícito e sem graça até sumir – meu frio de fada, meu potro pastel, ambos meus, todos meus. Meu quintal de casa grande, grande e ainda mais vasto dentro de mim: era varanda, campo, arbustos, floresta de bambuzais; meu pátio vivo. Meus dias de Outono, minhas folhas de ouro levantadas do chão por um vento infantil.

Outono é o tempo dentro do suspiro entre o adormecer do cisne e o despertar da coruja, que se reúnem e se confinam numa mesma fronha, mesma cama de outono, meu travesseiro de plumas. E enquanto a cabeça pesa no macio da almofada e durante o sono do cisne e antes da coruja acordar, ele vem e me visita, dá-me um beijo e mil afagos que guardam meu sono, minha noite, meu outono. No dia seguinte o potro Sol é quase um corcel d’ouro, e a fada brisa, gelada rainha. O ar é todo denso e carinhoso, e seria colorido se não preferisse ser todo amarelo. Eu me faço correr pelo campo enquanto da varanda ele me observa, e corro e pulo com a leveza das folhas de outono que aprenderam a flutuar, e realizo que minha alegria tem o tamanho do brilho que os olhos dele tiverem, e vice-versa.

Nunca fui cisne, nunca fui coruja; jamais fui pássaro algum. Mas quando ele corria da varanda e atravessava o gramado ao meu encontro – quando me encontrava e me erguia do chão, braços envolvendo minha cintura como laços de cetim, mãos leves e o peito acomodando minhas costas, confortável como o corpo das corujas e dos cisnes parece ser – eu voava e era fantástico tal qual o bote de uma única coruja, tal qual cem cisnes povoando um lago em branco-pérola. Era como se ele fosse um travesseiro feito de ventos e, eu, leve como uma pilha de folhas que se espalha e se expande pelo ar em risadas, enquanto rodopiava e transformava todo meu mundo naquilo que meu mundo realmente era: um borrão multicolorido, dono de todo tom laranja, marrom, dourado; bambuzal, casa grande, quintal; corujeio, arenso, meu riso sem freio e o silêncio do sorriso dele ao pé da minha orelha, eternizado no abraço, no giro, no borrão de cores.

Nem em coruja nem em cisne; eu fazia minhas asas e alçava voo nos braços do homem que me assistira quebrando a casca do ovo e me ensinara a voar. Nele aprendi a tomar os céus mesmo depois que caíssem as folhas e que o mundo (meu mundo) caísse num azul-cinzento sem cura. Pois azul é a cor que segue a queda das folhas secas e a morte da brisa; e, do ocaso dos ventos, nasce o Inverno.


~ ~ ~


Começou como um desafio de produzir algo baseado em algum dos filhotes da Leila. Escolhido, tornou-se quase que involuntariamente uma singela homenagem a uma nativa dos Outonos e amante das folhas secas...
É a primeira vez que vejo uma coincidência que não é uma coincidência de todo.
Enfim, ei-lo(a).
Vou arranjar uma máquina de escrever.