domingo, 13 de setembro de 2009

são

Um dia, Loucura, tu me encontraste.
Era noite chuvosa e eu jazia largado em uma poltrona; meus pais eram mortos e me lembrava deles à luz de velas.
Quando te aproximaste e me tomaste o braço com teu punho firme e tuas garras longas, sussurraste em meus ouvidos. "Eu sou a Loucura; eu sou tua ruína". Assim abriste teu manto difuso e toda luz de vela se apagou, enquanto eu afundava contigo e vislumbrava que tudo de fato ruía: amigos, amantes e empregados davam-me as costas; faces estranhas nos espelhos; via meu cérebro, minha cabeça estava aberta, minha mente estava exposta; havia uma mordaça em minha fuça!
"É mentira!", eu tentava gritar; "É mentira!"
Mas minha mordaça, Loucura, eram na verdade rédeas. E quando dei-me conta disso arranquei tua máscara e agarrei teu rosto para sussurrar-te de volta: "Não és ruína: és libertação".

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