domingo, 12 de agosto de 2007

Um Com o Mundo, O que Lava a Alma

Eis que o Sol se pôs.
E a noite tomou o espaço do céu e da terra, e o lusco-fusco não fez objeção. Os vaga-lumes acenderam como haveria de ser, e todos que estavam presentes naquela região trataram de voar até o alto do pico, numerosos, desenhando círculos em volta do ser que respirara a brisa vespertina.
O tal não mais encarava o horizonte. Sua face erguida ao céu, os olhos vidrados nas estrelas, infinitas, dispostas no céu como um salpicado de prata, ouro, bronze, cobalto. Todas elas brilhavam de maneira única, como se dispusessem de uma complexa personalidade, como se cada piscada à Terra significasse algo maior que simples explosões e reações químicas. E ele sabia que significava muito mais que isso, e só por saber disso, já sabia mais do que qualquer cientista que imaginou ter compreendido as estrelas. As estrelas, então - todas juntas -, piscaram para ele, deixando o céu completamente escuro por um instante único. Os vaga-lumes brilharam como nunca, naquele momento onde eram as únicas luzes do mundo inteiro; como pequeninas estrelas esverdeadas, iluminaram o homem, o pico, e toda floresta em volta - e todos agradeceram em silêncio. O brilho esverdeado iluminou o sorriso sutil do homem que compreendia as estrelas, e então todo céu foi salpicado novamente com aquelas lamparinas maravilhosas. Mas o brilho repentino da volta das estrelas jamais ofuscara aquela luz que residia no olhar do homem, ou na traseira dos vaga-lumes. Então ele piscou para elas.
Provou da brisa noturna ao inflar e desinflar o peito novamente, e junto do ar, que de longe vinha agraciar o homem que conquistava os céus, vieram majestosas nuvens negras como jamais antes visto. Cavalgavam com honra e maestria pela penumbra do céu pontilhado, até cobrir completamente as estrelas dispostas no vácuo do vasto universo.
Não desviou o olhar do céu. Não ajeitou-se, não quis descer do pico para proteger-se da tempestade iminente, não temia raios ou ventanias. Os vaga-lumes mantiveram-se, os ramos e vinhas subiam cada vez mais, e agora enrolavam-se pelo corpo do homem que desafiava a tempestade, envolvendo pernas, tronco e ombros - suas pontas encaravam os céus, esperando o que vinha dali.
Encarou as nuvens colossais com serenidade. Ergueu os braços, oferecendo as mãos nuas aos céus - as nuvens rugiram, e toda Terra tremeu com isso. Mil leões de fumaça e energia vociferavam, das nuvens, para o homem, e ele não tremia. No momento em que abaixou as mãos, desenhando arcos com cada uma das duas, a chuva caiu. E atingiu o solo com velocidade, e banhou o picocom incontáveis gotículas de água pura. O homem que banhava-se na chuva abriu a boca, fechou os olhos - deixou-se sentir cada gota agulhar o corpo, até que não restasse corpo seco em existência. O vento passou a soprar com força, comandando a cortina de água para inundar o ar em todas as direções.
Era quase um tufão, que fazia com que torrentes de água girassem e atingissem o homem, mas ele jamais se movimentava, sobre aquele pico. Mantinha-se alto. Abraçado às vinhas, rodeado pelos vaga-lumes insistentes, ele jamais cairia. Seu mundo o banhava com o que havia de melhor; a mesma água que desmanchara a pedra e a transformara em areia, envolvia-o em ferozes gotículas. Purificavam-no.



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Parte 1 - Um Com o Mundo, Ar da Vida

Goles de Inspiração:

3 comentários:

Anônimo disse...

Está muito bom esse texto. E, repito, de vez em quando eu deveria fazer coisas como subir esses picos...

Anônimo disse...

De maneira alguma, mestre.

Sabe o que sinto de diferente entre nós? Os teus textos são, geralmente, muito mais sinceros que os meus.

Veja bem. Eu escrevo utilizando a maioria das figuras de linguagens da lingua portuguesa e você, bem, você utiliza as linguagens do teu coração.

Um dia ainda vou evoluir à esse nível!

Abraços,
Jun~

Anônimo disse...

Ai meu deus. tem muito pra me atualizar por aqui. Bom, já está nos meus favoritos. Ainda coloco minhas leituras em dia.
tava sentindo falta.
bjinhos =]