segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Semi-presencial

Jurava que já havia passado da época de tomar bronca por conta dos horários, mas eram três da matina quando minha mãe, descabelada e madrugal, entrou no meu quarto. E eu não estava gritando; ou ouvindo música; ou rindo alto. Ou sorrindo. Ela deve ter acordado e ficado nervosa, deus sabe lá porque hoje; deus sabe lá porquê. Talvez hoje tenha sido um estopim.
Entrou, e eu, com meus recém-feitos dezoito anos; eu, sem aparente juízo na cabeça por passar outra madrugada em claro; eu, que se continuasse naquela condição, naquela situação deplorável (grifo meu) seria encaminhado a um médico; escutei.
Tá. Calmaí, que médico? Ela já tinha saído do quarto, voltou, talvez pra conferir se eu falava sério quando perguntei aquilo. Respondeu sem jeito. Psicólogo. Psiquiatra. Tá, eu consenti. Sem a certeza de que ela havia compreendido minha seriedade sobre, se ela me concederia a regalia de alguém pago para me escutar, foi dormir. Eu não fui.

Não por pirraça. Sem julgamentos, sei porque fiquei.
Dessa forma, se não passou o tempo das broncas, o da pirraça, ao menos, se foi. Mesmo assim, não retorna o sentimento de, pela primeira vez em tempos, estar fazendo a coisa certa. Não volta. O sono de novo é inútil (isso volta), o desânimo consome (isso volta), visto luto.

Sinceramente queria que chovesse hoje. Mas faz sol e o sol ressalta a desimportância dos dramas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Como conversado (rss) e esclarecido, talvez não caiba exatamente na situação posta, mas ainda sim, são escritos interessantes... Beijos Zé
;)


"Depois, uma mulher que trazia uma criança ao colo disse, fala-nos das crianças!
E ele respondeu: Os vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da Vida que anseia por si mesma.
Eles vêm através de vós mas não de vós.
E embora estejam convosco não vos pertencem.
Podeis dar-lhes o vosso amor, mas não os vossos pensamentos, pois eles têm os seus próprios pensamentos.Podeis abrigar os seus corpos mas não as suas almas.
Pois as suas almas vivem na casa do amanhã, que vós não podereis visitar, nem em sonhos.
Podereis tentar ser como eles, mas não tenteis torná-los como vós. Pois a vida não anda para trás nem se detém no ontem."

Gibran